domingo, 31 de maio de 2015

Venha ver o pôr-do-sol - Novo Final


GÊNERO: Horror

CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: Proibido para menores de 14 anos

SINOPSE: Após uma intervenção em um dos trechos do conto "Venha ver o pôr-do-sol", de Lygia Fagundes Telles, escrevi um novo final para a história, ainda mais sombrio e macabro que o original.




INTERVENÇÃO 

[...] 

- Eu gostei de você, Ricardo. 

- E eu te amei... E te amo ainda. Percebe agora a diferença? 

Um pássaro rompeu cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu. Tirou de dentro da gola da blusa um colar com um pingente de um pentagrama invertido, esfregando-o entre os dedos. 

- Esfriou, não? Vamos embora. 

[...] 


NOVO FINAL 

“O anel que tu me deste era vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou”. 

O som da cantiga parecia ficar cada vez mais distante à medida que Ricardo descia a rua, indo em direção ao seu carro. Ele não estava triste, nem tampouco arrependido pelo que havia feito. Pelo contrário: ele estava muito satisfeito. O que Raquel havia feito, para ele, era imperdoável. 

– “Tomara que aquela cretina apodreça naquele lugar”. – Agourou, em seus pensamentos. 

Raquel, sentada de costas para a portinhola do jazigo, cessou os berros. Suas mãos tremiam de ódio. Em seus pensamentos, a visão de Ricardo agonizando até a morte era seu único conforto. 

– Vai pagar caro por isso, Ricardo. Mal posso esperar para vê-lo engasgar em seu próprio sangue. – Murmurou, novamente tirando seu colar de pentagrama invertido de dentro da gola da blusa. 

Raquel levantou-se, limpando a poeira de sua calça. Envolvendo suas mãos ao redor de seu pescoço, desabotoou o colar, jogando-o no chão logo em seguida. Abaixou-se em frente ao colar, tomou um punhado de poeira nas mãos e jogou em volta do pingente, murmurando algumas palavras em uma língua estranha. 

Ricardo ia entrando em seu carro quando sentiu um pequeno tremor de terra. O sol já ia se pondo, e a rua estava ficando escura. Confuso, ele sentiu que alguém o observava por suas costas. Ao olhar para trás, percebeu que as crianças haviam parado de cantar e estavam a alguns metros de seu carro, encarando-o. Seus olhos, antes inocentes, agora tinham ódio e desprezo. Tamanha era a energia negativa que Ricardo deu um pulo para trás, assustado. Rapidamente, Ricardo entrou em seu carro. Girou a chave no painel, mas o carro não ligou. Girou mais uma vez, nada. Tentando dar a partida, ele não percebeu que as crianças haviam cercado o carro. Não havia visto antes por estar muito escuro, mas as crianças estavam armadas com tacos de madeira e canos de ferro. 

“PIFTSHHH...” A janela do carro do lado do motorista foi estilhaçada graças ao golpe dado por uma das crianças com um cano de ferro. Abriram a porta do carro e puxaram Ricardo para fora. 

– Fiquem longe de mim! – Dizia, engatinhando, tentando fugir após cair do banco do carro. 

As crianças, então, o cercaram, e começaram a golpear o jovem com suas armas improvisadas. A força dos golpes fazia o sangue de Ricardo jorrar e respingar nos rostos dos “inocentes”. O som dos ossos de Ricardo se quebrando era bem nítido, era como andar sobre folhas secas. A pele de Ricardo começou a se rasgar, e suas entranhas ficaram expostas. Alguns largaram os bastões e começaram a abrir a barriga do recente cadáver com suas próprias mãos. Puxaram para fora seu intestino, suas tripas, como um mágico tirando um coelho da cartola. Puxaram-lhe os braços, um em cada lado, até eles se desprenderem do corpo, como quando brincam de cabo de guerra. Fizeram o mesmo com as pernas e a cabeça. 

Raquel ia descendo a rua devagar, se aproximando do corpo de Ricardo. Em seu rosto, um sorriso satisfeito no canto da boca. Em seus olhos, um olhar sombrio, satisfeito como alguém que acabara de saciar sua sede de morte. Pegando a cabeça decepada de Ricardo pelos cabelos em uma mão, ela se aproxima de uma das crianças, e pegando em sua mão, eles continuaram descendo a rua, recomeçando a cantiga, sumindo no breu do anoitecer. 

– "Ciranda cirandinha, vamos todos cirandar. Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar..."

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